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Código da Estrada

                                 Artigo 19.º
                      Visibilidade reduzida ou insuficiente

   Para os efeitos deste Código e legislação complementar, considera-se que a visibilidade é reduzida ou insuficiente sempre que o condutor não possa avistar a faixa de rodagem em toda a sua largura numa extensão de, pelo menos, 50 m.

Pode-se tirar uma pessoa da vida que leva, mas tirar de uma pessoa a vida que ela teve, isso é outra história.
Eram oito e trinta dum crepúsculo rosado de verão tardio que contrastou com o negrume que se me abateu na alma, quando aquela notícia rasgou mais um pedacinho da minha crença no amor.
Fosse como fosse, decidi comparecer no concerto do qual não me ficou memória, com uma amiga suficientemente decente e solidária para fingir não notar que algo se passava, embora me incitasse subtilmente a desabafar. 
Eu sendo eu - com a inteligência emocional dum caracol-, entrincheirei-me em silêncio (parte por orgulho, parte para não abrir aquela brecha que antecede a derrocada total) e fui regando com camadas de cerveja a desalmada vontade de me desfazer em lágrimas. E entre ensaios de sorriso de polida gratidão - que era o máximo que conseguia devolver aos muitos gestos de simpatia que fui recebendo de quem (suspeito) soube ler nos meus olhos a desolação que me ia no coração - lá aguentei aquela noite interminável.
De madrugada deixei a Helena à porta de casa, para que me brindasse com um momento de pausa melodramática e um pouco bêbeda, antes de desferir a recomendação que ressoa em mim até hoje: 
“Faças o que fizeres, faz com classe, porque olha que tudo passa e é importante a forma como se enfrentam as coisas”. 
Entregou-me esta pérola de sabedoria com um olhar carregado de significância e sem cerimónia bateu com a porta do carro, para demonstrar que é com desprezo que se trata o que nos maltrata.   
No dia seguinte, logo que o universal estado deplorável da ressaca me concedeu as tréguas dum princípio de ser humano, aplaquei-me com dois ben-u-rons, um pequeno-almoço tardio de ovos mexidos e água das pedras, e procurei as lições que a situação tinha para mim. 
Sentia-me grata por me sobrar tanto domingo para desabar até ao pó e depois poder enregelar o inchaço dos olhos, antes de voltar a enfrentar o mesmo mundo de ontem. 
Liguei a tv sem som, enrosquei-me no sofá com uma manta sobre as pernas frouxas e corajosamente armada dum café a escaldar, lenços de papel e um pacote de bolachas de chocolate (para o caso de o meu túnel de reflexão desembocar num ataque de carência), preparei-me para o exorcismo da primeira vaga, que é sempre a mais difícil. 
Acabo de adicionar à minha lista de experiências amorosas a mais recente perda de companheiro. Primeira constatação: tenho uma lista. A lista acompanha os meus últimos dez anos e tem vários nomes mas é só uma e é só minha.  (Continua)



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