Alguém que viva só de palavras acaba por cansá-las, em si e nos/as outros/as! Termina por refugiar-se nelas, e as letras que outrora pareciam desenhar-se mágicas e triunfantes, tornam-se em cansativas discussões triviais ao pequeno-almoço. Com o analfabeto só terás acesso a trivialidades quando jogarem ao trivial pursuit e perceberes que lhe ganhas sempre.

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Namora um analfabeto! Vais saber quem ele é! Quando chegar à tua beira e te roubar o braço para um tango argentino na chuva, vais perceber que não andou a imitar o António Banderas em frente ao espelho antes de te chamar! Da mesma forma, quando te mimar o cabelo miudinho que escondes atrás do teu pescoço, aquele que é militarmente guardado pelo agente criminal cabelo solto, perceberás que não é o fingidor literário que iniciou a sua actividade com as revistas Ragazza da irmã adolescente. E quando achares estranho alguém analfabeto saber tantos segredos teus, respeita, quem é analfabeto rotulado, prefere não ver escondido nenhum pedaço.

Se continuares a procurar a pessoa que não lê,vais facilmente distingui-la num café. Se gostar de ti vai dizer-to em três palavras... e esperar que o digas com a mesma veracidade que ele. Se não gostar de ti nunca lhe verás um sorriso com os olhos, porque o analfabeto não actua como o fingidor profissional, porque nunca se cruzou com ele nos livros.

Contudo, se queres a sua atenção, cuidado! Não finjas! Porque ele sente quando o fazes! Nunca irá admitir-te que não sabe quem é Neruda e vai sorrir-te só para que consigas simpaticamente ensiná-lo. É que isto do ser simpático parece fácil, mas os analfabetos percebem e valorizam o aprender com o outro e não se envergonham disso.

Se um dia às 2h da manhã estiveres a chorar com um livro apertado ao peito como se o mundo pudesse acabar naquele momento e a pessoa com quem estás te trouxer um copo de vinho, semelhante ao olhar doce que a tua mãe vestia quando te trazia eucaliptos numa panela a ferver, para desobstruir as vias nasais...não estranhes...sorri! Parece difícil, mas aprenderás com ele como isso sabe tão bem.
Aliás se no decorrer do tempo ele te propuser em casamento saberás que não será num balão quente nem num concerto de rock, porque isso surge nos livros, mas não na vossa história e ele apesar de não ter lido as tuas, nem as que te inspiram, não o vai repor. Cada história, cada vivência, e não cada prateleira.

Há pessoas que preferem uma pessoa que leia, ou melhor que escreva. Eu aconselho uma pessoa que seja analfabeta, porque essa dá-se ao efeito do instinto mais rapidamente... Efectivamente não tem os nomes dos teus personagens preferidos guardados na ponta da língua para tos entregar num jantar romântico, nem pode criticar a corrente literária que mais se identifica com o teu patrão, mas sabe de cor o teu cruzar de pernas e o volume da tua gargalhada desbocada no casamento da tua prima. É engraçado, porque ele conhece todas as pessoas com quem fala, sabe onde vivem, trata-as por tu, reconhece as suas fragilidades e inspira-as enquanto se alimenta.

Há pessoas analfabetas más, claro que sim. Mas essa maldade também existe nas pessoas que se definem como literariamente praticantes, a diferença é que estas últimas a transmitem conscientemente e depois disfarçam-na em personagens não auto biográficos.

Ama uma pessoa analfabeta que saiba os teus segredos corporais. Que reconheça os teus limites. Que respeite não gostares da merda da fotografia que tirou na comunhão solene, apesar de ser a preferida dos pais dele. Que aceite que te irrites por usar as meias do pato Donald nos eventos com mais classe, mas que mesmo assim continue a fazê-lo.
Ama uma pessoa não por aquilo que lê, nem que escreve mas por aquilo que te provoca. Ama não uma, mas quatro pessoas, e suporta-as em ti sem te sentires carregada.

E depois escreve um texto que se chama, "namora um analfabeto", só porque queres dizer ao mundo, que é errado namorar-se quem se escolhe! Porque as pessoas não se namoram pelo título que lhes colocamos!

Se calhar nunca namorei um analfabeto, mas amei-o! E eu prefiro amar do que namorar! Leiam essa história!Ou então conheçam um analfabeto, um duende ou um anão e construam a vossa história, não para a contar...mas para a viver. Porque pelo menos essa será só vossa! Tenho dito!

(juntem-se a mim @osazuisdela )